quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

    Diálogo da pintura com o pintor

                Idéias de uma pintura




            De frente um para o outro, sendo observados pelas tintas ao lado no chão agrupadas, os pincéis acomodados na pequena estante do cavalete, os lápis antes usados em algum lugar estão agora na escada sobre o terceiro degrau, escada que ocupa o chão próxima ao rodapé da parede defronte a porta e para a direita do cavalete.
A sala, testemunha de tantos outros diálogos, debates já ocorridos entre suas paredes, sobre seu chão e sob seu teto, esta agora novamente abrigando e testemunhando outro encontro da pintura e do pintor.
Porém antes deste confronto o pintor passa por varias tarefas necessárias, aonde nestas ele se prepara, armazena seu arsenal para poder escolher o campo aonde será travado este encontro.
  Campo este é a tela, feito isto o pintor já começa a se deparar e encontrar a pintura dando início ao tão fértil diálogo:

­
­Tela – O que você esta olhando?
E o pintor pensa e olha...,
Tela – O que você esta vendo?


E é exatamente isto que preocupa o pintor, este primeiro embate com o branco, com o campo determinado em branco, como fazer para transformar esta superfície pura e infinita em algo finito? Ao se deparar com esta pureza o pintor se sente um agressor, pois para conseguir se comunicar com a pintura ele terá que atacar a tela com seu pincel e a tonalidade escolhida, assim a superfície que até então era infinita em sua imagem começa a se desvendar aos olhos do pintor e pelo pintor, se tornando única e com características reconhecíveis perto do tão almejado sentimento de finito.




Agora sim o pintor não se sente impotente e ataca a tela:


Tela - O que é isso?
Pintor - Isto é o que começo da sua transformação e o início do nosso diálogo.
Tela – Então se isto é um diálogo pode ser que você também sofra transformação.
Pintor – Sim, mas sou eu que faço a primeira ação, que desvendo a imagem, evidencio formas, luz, sombra, portanto sou eu quem cria a transformação.
Tela – Será? Tudo bem você tem a primeira ação, mas se é você quem cria, que desvenda, que evidencia, que transforma é porque alguma coisa você vislumbrou, alguma forma te foi apresentada e quem acha que te apresentou? Aonde foi que viu estas imagens em potencial? Em mim, na tela em branco, ou ate que me prepare de outra cor, no início são sempre possibilidades, o infinito, eu a tela.


            Na sala percebe que nunca tinha pensando nisso, na possibilidade de que realmente quem começa a pintura é a própria tela. Fica encucado e para o ataque; ela me pegou de surpresa. Olha, olha, observa, admira as poucas pinceladas na superfície da tela, pensa nas cores, nas formas, na figura e reavalia se serão aquelas formas, figuras, cores as mais harmônicas para serem pintadas naquela respectiva tela chegando a conclusão de que este diálogo esta sendo bem mais proveitoso, mais intimo e que na pintura as possibilidades existem para serem vistas.
           Entende que ele esta acompanhado nesta batalha, as vezes sua escolha  não é a mais adequada e começa a parecer para ele que a pintura já sabe disso e que se tratar ela com respeito será ajudado na procura da imagem que o pintor quer realizar. Agora com este pensamento ele começa novamente, apanha o pincel,  escolhe um azul bem claro e ataca:


          Tela – Aonde vai com esse azul bem claro?
          Pintor – Vou usá-lo para construir uma área monocromática vertical e retangular a sua direita e a minha esquerda.
         Tela – Esta é a melhor cor para isso?
         Pintor – Sim, por hora me parece perfeita a não ser que outras cores ou você mesmo me faça trocá-la! Alem do mais esta muito cedo para começar a tagarelar


         Dito isso o pintor começa a construir a forma imaginada com muito esmero para que fique o mais homogêneo possível. Passa horas trabalhando e a cada pincelada dada um pensamento é pensado e a cada pensamento pensado uma pincelada é criada, a situação não se estabelece em uma ordem continua e nem identificável mesmo porque cada pincelada é do mesmo tom, ou seja, de fora só se vê o  azul bem claro. Porém o pintor e a tela sabem muito bem o quanto único é cada pincelada e cada pensamento do seu começo ao seu final.
         Neste jogo complexo de pinceladas diferentes se agrupando pouco a pouco, camada por camada ate que consigam estabelecer uma harmonia tamanha onde os pensamentos do pintor ancore e se conforte.

pássaros na minha porta!





Morfo, 90 x 60 cm

Origem, 70 x 1,20 cm

fase antiga de pinturas grandes!!!!